APESAR da elevada frequência de tiroteios em massa, em locais públicos dos Estados Unidos, ataques como o de 14 de fevereiro, em uma escola secundária da Flórida, que causou a morte de 17 pessoas e feridas a outras 20, continuam causando estupor perante o nível de violência registrado e o fácil acesso às armas dos perpetradores.
Vários órgãos da mídia e personalidades norte-americanas amanheceram com a pergunta de por quê ocorrem tantos episódios deste tipo em seu país, cujos índices não têm comparação com o resto das nações desenvolvidas.
«Pensamos nos Estados Unidos como um país excepcional. Somos é, somos a exceção da regra de que os tiroteios em massa não ocorrem em escolas, igrejas, concertos e outros locais públicos, com uma alarmante regularidade», escreveu em sua conta de Twitter a congressista Elizabeth Esty.
De acordo com o Gabinete da ONU contra as Drogas e o Delito, os Estados Unidos registram uma taxa de homicídios de 4,88 mortos em cada 100 mil cidadãos, muito mais alta que a de nações ricas como a Áustria (0,51) ou os Países Baixos (0,61), mas também superior a outras mais pobres como a Albânia (2,28), Bangladesh (2,51) e o Chile (3,59).
Ao anterior se adiciona o fenômeno dos ataques em massa, que ocorrem nos Estados Unidos a um ritmo sem referentes em nível internacional, em zonas que não enfrentam conflitos bélicos.
O QUE NOS DIZ O ÚTIMO TIROTEIO NA FLÓRIDA?
Os lamentáveis acontecimentos de 14 de fevereiro na escola secundária Stoneman Douglas, da cidade de Parkland, Flórida, mostram a tendência destas manifestações de violência na sociedade estadunidense.
Diferentemente daquilo que se poderia pensar, os tiroteios em massa não ocorrem sempre em zonas violentas, mas abalam comunidades aprazíveis como Parkland, classificada pela pesquisa anual da Safest Cities como a 15ª cidade mais segura do país.
Outra coincidência é o perfil psicológico do atacante. Tal como Adam Lanza, que matou 26 pessoas, em dezembro de 2012, na escola primária Sandy Hook, o autor da chacina do dia 14 era um jovem transtornado, com problemas psiquiátricos e um histórico de violência.
Desde a década de 1970, os Estados Unidos foram fechando a maioria de seus hospitais psiquiátricos, trespassando o problema aos cárceres. Igualmente, milhares de pes-soas sofrem transtornos mentais sem o necessário atendimento especializado, que não é coberto, na maioria dos casos, pela previdência social.
Nikolas Cruz, o principal suspeito da troca de tiros na Flórida, tem 19 anos e é um ex-aluno de Stoneman Douglas, expulso por «razões disciplinares». Recentemente, seus pais adotivos morreram e se encontrava em um período de instabilidade emocional, de acordo com as investigações preliminares.
Era qualificado por seus conhecidos como «um garoto problemático», «solitário» e «doido pelas armas».
Segundo depoimentos dos professores da escola, eles tinham recebido indicações de observar os movimentos do garoto e não permitir sua entrada na escola com uma mochila.
Nas contas das redes sociais de Cruz, apagadas depois do atentado, podiam observar-se fotos dele levando armas brancas, espingardas e revólveres. Jillian Davis, estudante e ex-colega de Cruz, disse que ele falava muito sobre revólveres e facas, mas ninguém o levava a sério.
Até agora, a teoria que se maneja é que o atacante ativou o alarme de incêndio da escola e disparou contra a multidão que iniciava a evacuação.
Quando escutaram os disparos, muitos professores e alunos perceberam que algo estranho acontecia e se refugiaram nas salas de aulas e armários por mais de 40 minutos, até o momento em que foram resgatados pela polícia.
Já foram divulgadas histórias de heroísmo por parte de alguns docentes, como o treinador de futebol americano, Aaron Feis, que teria sido ferido de morte, ao interpor-se entre os disparos e uma aluna da escola que sobreviveu ao ataque.
ARMAS LETAIS
As autoridades que investigam o fato asseguraram que, no momento da detenção, Cruz levava um fuzil de assalto do tipo AR-15 e «inúmeros carregadores».
A facilidade com que um possível atacante pode adquirir uma arma de fogo, inclusive de categoria militar, é outra característica que eleva o saldo de vítimas neste tipo de acontecimentos.
No caso de Cruz, tratava-se de uma pessoa com histórico de violência e um perfil nas redes sociais o bastante conflituoso, o que torna ainda mais preocupante o fato de que tenha conseguido adquirir o armamento de forma legal.
(Granma)