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Raúl: promotor incansável dos processos de integração e antiimperialista por antonomásia

Raul DiscursoAO contrário daqueles acadêmicos e intelectuais que costumam dedicar tempo à organização do seu trabalho, o pensamento dos revolucionários com responsabilidades à frente do Estado frequentemente está disperso ao longo do tempo e entre milhares de discursos, entrevistas e declarações.

A tarefa do pesquisador é então resgatar esse legado e organizá-lo de tal forma que sirva para entender o alcance de uma personalidade e o momento histórico que ele teve que viver.

É precisamente isso que o pesquisador e ensaísta Abel González Santamaría consegue com Raúl Castro y Nuestra América. 86 discursos, intervenciones y declaraciones, que será apresentado na quarta-feira, 7 de fevereiro, às 11h00 da manhã, na sala Nicolás Guillén, em La Cabaña, como parte das atividades da edição mais recente da Feira do Livro.

O trabalho de González Santamaría transcende a mera historiografia para nos oferecer o estadista Raúl, cujo trabalho permanece firme com a prática revolucionária, há mais de meio século. Ele também deixa uma ferramenta para que as gerações atuais e futuras possam continuar o caminho aberto há mais de 200 anos a favor da unidade e integração da nossa América.

Na última Feira Internacional do Livro de Havana, foi lançado o livro Fidel Castro y los Estados Unidos: 90 discursos, intervenciones y reflexiones, e desta vez também vem o livro, preparado pela editora Capitán San Luis, uma compilação semelhante do general-de-exércitol. Qual é a relação entre os dois textos?

«Ambos os livros têm uma relação dialética, porque seus autores, o Comandante-em-chefe Fidel Castro Ruz e o general-de-exército Raul Castro Ruz, são dois homens com o mesmo pensamento, que se complementam na teoria e na prática revolucionárias. O livro Raúl Castro y Nuestra América: 86 discursos, intervenciones y declaraciones é como se fosse o segundo volume de Fidel Castro y los Estados Unidos: 90 discursos, intervenciones y reflexiones».

Qual o legado de ambos os líderes para a integração da América Latina?

«Eles demonstraram durante mais de meio século de luta intensa que era possível integrar todos os países da Grande Pátria em uma organização puramente ‘nossaamericana’ sem presença extrarregional. Fidel e Raúl, juntamente com outros líderes revolucionários e progressistas do continente, contribuíram decisivamente para a criação da Comunidade dos Estados da América Latina e do Caribe (Celac)».

«Devemos lembrar que, para conseguir isso, eles tiveram que se unir, para poder derrotar o projeto de dominação que os Estados Unidos pretendiam implantar na região no início do século XXI, através da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Essa vitória foi decisiva para poder avançar na integração».

Poderia pensar-se nos progressos realizados na região sem ter em conta o papel de Cuba como a força motriz a favor da ‘unidade na diversidade’?

«Há reconhecimento na região dos esforços que Cuba realizou, ao longo de 60 anos, de forma ininterrupta, a favor da unidade de suas nações e respeitando o sistema político, econômico, social e cultural de cada país. Graças ao fato de ter sido consistente com seus princípios, foi o local sede da 2ª Cúpula da Celac, em 2014, na qual os 33 países membros declararam a América Latina e Caribe como ‘Zona de Paz’. Este evento tem um significado histórico sem precedentes e constitui o principal instrumento que suas nações têm para enfrentar as constantes agressões e ameaças à paz, num mundo onde re escuta o rufar dos tambores da guerra».

Qual foi o papel nesses processos do pensamento de Raúl de que o livro retoma?

«O texto seleciona fragmentos de seu trabalho revolucionário, da entrevista que ofereceu à imprensa em 1959, no contexto da Reunião de Ministros das Relações Exteriores da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Santiago do Chile, até o discurso proferido em 2017, na5a Cúpula da Celac, na República Dominicana. O general-de-exército se destaca como um estadista muito sensível diante dos problemas sociais de nossos povos, ele é um promotor incansável dos processos de integração e é um antiimperialista por antonomásia. O seu pensamento revolucionário irá transcender esta era e é um guia necessário nestes tempos para os jovens».

A Revolução Cubana tem sido um farol para os movimentos de esquerda, não só na região, mas em todo o mundo. Como é que as novas gerações de cubanos não devem deixar cair essa batuta das causas justas em nível internacional?

«A melhor maneira é conscientemente cumprir todos os dias com o conceito de Revolução. Essa é uma tarefa que nos foi deixada pelo Comandante-em-chefe da Revolução Cubana. Preservar a unidade e deixar de lado tudo aquilo que pode nos dividir».

«É preciso aprender com erros e falhas, de modo a não ser confundido e dividido pelas oligarquias. Devemos ser otimistas e acreditar na melhoria humana».

«Em minha opinião, devemos continuar ajudando solidariamente os países do Terceiro Mundo e cumprir os compromissos de cooperação, com base na partilha dos recursos modestos disponíveis e não dos que tenhamos demais. Devemos, também, preservar as conquistas alcançadas e dar continuidade às políticas de desenvolvimento e inclusão social, de modo que haja uma distribuição mais equitativa de riqueza e reduzir as desigualdades».

Os avanços da direita nos últimos anos são circunstanciais ou fazem parte de uma mudança de ciclo?

«Existe um debate sobre se estamos ou não na presença do ‘fim do ciclo’ progressista na América Latina e no Caribe, que lembra a tese neoliberal proclamada pela direita, no início dos anos 90, acerca do ‘fim da história’. Eu sou um daqueles que acha que ainda não concluiu, embora os avanços da direita na região sejam evidentes, o que considero serem conjunturais. O que eles estão tentando fazer é retornar ao neoliberalismo e desmoralizar as forças e os partidos políticos, os movimentos sociais e as classes trabalhadoras».

«Os processos políticos não são lineares, estão em constante dinâmica e experimentam progressos, estagnação e contratempos. O que mudou nos últimos anos é o despertar de nossa América».

Como o senhor vê a política da nova administração dos EUA em relação à região?

«Há uma marcada intenção de retornar às políticas falhadas do passado. O novo governo dos EUA se projeta com desprezo e subestimação para a região geograficamente mais próxima do seu território. Eles nos tratam novamente como seu ‘quintal’ e como criminosos comuns. Essa é a realidade, embora tentem fazer dano em suas visitas à América Latina e ao Caribe. Obviamente, a 8ª Cúpula das Américas em Lima, Peru está se aproximando, e eles devem preparar o terreno para alcançar seus interesses geopolíticos».

«Estão obcecados com Cuba e a Venezuela. Não há documento ou discurso em que, referindo-se à região, eles não ataquem implacavelmente ambas as nações. Além disso, continuam aumentando as medidas de bloqueio econômico, comercial e financeiro para tentar uma ‘mudança de regime’».

Considera que a figura de Donald Trump, com o seu ódio contra os migrantes e as ofensas para os países da América Latina, poderia ser um fator de coesão para os países da região?

«Sem dúvida, está contribuindo para a coesão da região. Essas posições provocaram uma rejeição geral, que automaticamente se torna um fator essencial de denúncia e unidade. Trump insiste em aplicar uma política antiimigrante e continuar construindo o muro na fronteira com o México, culpando-os por parte dos sérios problemas sociais que os EUA enfrentam internamente. A realidade é que o muro é a expressão simbólica de uma ideologia xenófoba e ultranacionalista para os países do sul do Rio Grande».

A história da América Latina tem muitas perguntas abertas e vivemos em um momento que precisa de soluções. Que respostas pode encontrar o leitor em seus dois últimos livros?

«Precisamente esse foi um dos principais objetivos que eu propus em ambos os livros, pela validade de suas palavras. Confesso que durante os anos passei revendo e examinando cada texto para sua seleção (1.546 de Fidel e 1.468 de Raúl), foi o melhor curso de estudos que recebi. É uma fonte inesgotável de conhecimento de diversos assuntos políticos, econômicos, sociais, culturais e científicos que estimulam a gente, constantemente, a refletir, a compreender melhor a nossa história e conhecer a profundidade do pensamento revolucionário».

«Eu recomendo ler o prólogo do livro, que o Mestre e amigo Eusebio Leal Spengler fez com grande carinho, uma verdadeira joia da historiografia latino-americana e caribenha. Além disso, a ele é dedicada a 27ª Feira Internacional do Livro de Havana, um homem que ganhou o amor e a admiração de nosso povo por sua lealdade e contribuições para a cultura da nação cubana».

«Convido os leitores a continuar investigando e discutindo o prolífico trabalho de Fidel e Raúl, dois grandes homens de estatura universal, que elevaram ao ponto mais alto da Nação a ideologia de José Martí, com a convicção de que ‘um princípio justo, do fundo de uma caverna, pode mais do que um exército’».

(Granma)

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