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Foro de São Paulo: uma batalha vital pela unidade

forosaopauloO 24º Encontro Anual do Foro de São Paulo, foi realizado entre 15 e 17 de julho em um momento transcendental para a região e para a luta da esquerda em todo o mundo.

Com relação a este evento, o jornal Granma Internacional conversou com José Ramón Balaguer Cabrera, membro do secretariado do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba e chefe do seu Departamento das Relações Internacionais.

O que o Foro de São Paulo (FSP) representou até hoje?

«Devemos lembrar que na época em que o FSP foi fundado havia uma grande incerteza — para algumas pessoas semelhante à que há nestes tempos — e então figuras como Lula e Fidel foram vitais. Eles vislumbraram que o socialismo não poderia desaparecer, que era necessário achar alternativas para que todos os partidos de esquerda, todas aquelas forças políticas que tinham um conceito diferente de sociedade, lutassem contra o sistema capitalista, explorador por essência, para que não continuasse se impondo sobre nossos povos».

«Não se pretendia impor nada, nem traçar diretrizes ou linhas que pudessem se sentar para discutir, porque com o desaparecimento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) não se podia perder a concepção de que uma sociedade verdadeiramente justa poderia existir e que a história não tinha acabado. Foi um momento extraordinário que salvou a perplexidade que existia».

«Mais tarde em Havana, em 1993, Fidel falou da necessidade da unidade das forças de esquerda como única alternativa, algo de vida ou morte, não se podia renunciar a continuar. Porque a vida mostrou que, quando as forças da esquerda se unem, conseguem ganhar no sistema das democracias representativas e nas eleições, que podem tomar o poder e transformar a sociedade em modelos mais justos».

«E apesar de todas as ameaças e obstáculos, de todas as tentativas de desestabilização de todos os tipos, demonstrou-se que quando há unidade se pode lutar e continuar vencendo, apesar das condições complexas, como as que foram apresentadas a projetos como a Revolução Bolivariana, a Revolução Cidadã no Equador, o projeto de Evo Morales na Bolívia, a Revolução Sandinista, o Brasil de Lula e Dilma com o PT à frente».

«As possibilidades que se apresentaram na América Latina até então antes eram impensáveis e chegou o momento em que os Estados Unidos foram forçados a aceitar Cuba na Cúpula das Américas, antes inconcebível, graças também à solidariedade da esquerda com Cuba».

«O que já se estava vendo com a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) e a Alternativa Bolivariana para os Povos das Américas (ALBA) foi concretizado com a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). E então se intensificou a ação do império para tentar impedir que isso acontecesse».

«Estamos vendo como a suposta luta contra a corrupção é utilizada para derrubar governos progressistas, que o que estava acontecendo na região a partir daquele sentimento de solidariedade e cooperação que foi gerado era totalmente antagônico ao sistema imperialista e então começaram a lançar mão de métodos judiciais, da guerra econômica, da violência, para tentar reverter essas conquistas e impor a Doutrina Monroe».

«Este encontro em Havana acontece, portanto, em um momento importante para conseguir que se entenda, que seja compreendida a importância do FSP na construção da integração, do bem comum. Nunca existiu a intenção de dizer o que se deve fazer, mas debater algo essencial: a única maneira de avançar é a partir da unidade da esquerda».

«Vejam o quão interessante o que aconteceu no México, uma vitória esmagadora de Andrés Manuel López Obrador. E o que isso significa? Que no âmbito da discussão, do diálogo, pode se entender que quando as forças se unem, o que parece impossível acaba ocorrendo».

Fala-se muito em pessimismo…

«É a mesma coisa que eles tentaram fazer quando a URSS desapareceu, definir o fim da história e mostrar que a partir daí não havia nada, além do capitalismo. E a perplexidade começou, a divisão, a fragmentação da esquerda, a radicalização do sectarismo, o divórcio dos partidos revolucionários dos movimentos sociais. Mesmo nos Estados Unidos, um grande número de sindicatos desapareceu».

«Mas os movimentos sociais, por exemplo, conseguiram melhor articulação para a luta e isso é uma realidade. Claro, eles representam os povos, aqueles que sofrem os problemas e precisam de uma sociedade diferente, cada dia, para viver».

«É importante que compreendamos e consideremos a possibilidade de que as forças de esquerda discutam um programa político entre elas, porque é difícil conseguir a unidade em questões eleitorais, deve também conceber uma projeção política da sociedade e que isto seja um programa que seja levado à prática se as eleições forem ganhas».

«Mas para isso devemos ter uma noção do momento histórico — como Fidel nos disse em seu Conceito de Revolução — porque, às vezes, há coisas que são corretas, que são necessárias, mas que em um determinado momento dificilmente podem ser concretizadas. Foi isso o que a Revolução Cubana fez: resistir, continuar lutando e sempre contar com a força e a unidade de nosso povo, que é o que sustentou o processo revolucionário».

«Do que se trata é de que as forças da esquerda estejam unidas, sem perderem sua identidade, mas com base em um programa político. O que verdadeiramente é impossível é transformar a sociedade sem a unidade das forças da esquerda ao galgarem o poder».

«Neste momento não há nada tão sólido como o FSP, onde podem ser discutidos os problemas que existem e as formas de buscar uma união. É por isso que em Havana a esquerda europeia se encontrará com a da nossa região e também haverá representantes de movimentos e articulações sociais, artistas e intelectuais, haverá debates sobre a guerra da mídia, mas partindo do otimismo e da convicção de que juntos podemos»

Vinte e cinco anos depois, uma reunião do FSP em Havana…

«Isso nos dá a possibilidade de que muitas pessoas que possam estar pensando de maneira diferente entendam o momento em que vivemos e entendam que a Revolução Cubana continua sendo a mesma, única, com o mesmo Partido à frente. Que eles entendam o que fizemos nos 6º e 7º Congressos do Partido, que é reafirmar o futuro e a concepção de uma sociedade mais justa, que não abaixamos as bandeiras ou as armas, mas pelo contrário».

«Entenda-se que estamos aperfeiçoando nossa sociedade, nos adaptando aos tempos atuais, incluindo nossas relações com os Estados Unidos, que estão muito bem definidas e aspiramos a normalizá-los como em qualquer país do mundo, mas há princípios aos que nunca renunciaremos».

«Este Encontro permite que amigos de todo o mundo, membros do FSP ou convidados de outras regiões vejam que Cuba é firme em seus conceitos e princípios e que o que foi alcançado é precisamente devido à unidade».

A presença de Martí e Fidel…

«O objetivo da homenagem a Fidel com um plenário especial dedicado ao seu pensamento e sua relação com o FSP, com a unidade, é dialogar e ver como suas ideias se renovam, o quanto precisamos delas e que sejam compreendidas em toda sua magnitude».

«Nossa Revolução move-se no calor das concepções e princípios de Fidel, do que levou a ações concretas, dos princípios que ele semeou em todo o mundo».

«O que predomina na Revolução Cubana, o que gostaríamos de ver entre aqueles que querem lutar é o pensamento de Fidel, que é o mais avançado que existe na Terra como um pensamento revolucionário e transformador, como o resgate do que supostamente desapareceu com a URSS, que é a real possibilidade de transformar a sociedade em algo justo, com todos e para o bem de todos, tal como nos ensinou José Martí».

«É por isso que a presença permanente de José Martí e Fidel está em todos nós, com duas ideias essenciais: a independência e a construção de um país com justiça social, devido às quais para os seguidores de Martí é muito fácil entender o socialismo. Eles nos acompanham hoje e sempre o farão, nesta batalha vital em prol da unidade».

(Granma)

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